Câmeras de vigilância estão em todos os lugares: ambientes externos e internos, aeroportos, estações de trem, escritórios e lojas. É impossível escapar dos observadores onipresentes até mesmo em meio a natureza, deixando o imaginário de George Orwell enfraquecido quando pensamos na nossa realidade.
Na maioria dos sistemas de monitoramento, as imagens são gravadas em ciclos “só pra garantir” e a vigilância não vai muito além disso. Ultimamente tem se tornado mais frequente o envio dos vídeos para diversos sistemas de análises de dados, dessa forma, essa informação poderia ser usada para monitorar alguém em específico.
É mais do que claro que participar desse Big Brother involuntário consiste numa violação de nossas privacidades individuais. Pensando na perspectiva do governo cuja função é manter a ordem, isso pode ser visto como um mal necessário. Contudo, lojas e negócios dos mais variados setores vêm utilizando sistemas biométricos violando nossa privacidade e bolso. Ai já são outros quinhentos.
Urban surveillance camera systems are lacking basic security – http://t.co/dajt6rYe91 pic.twitter.com/7b3mx0iUjZ
— Kaspersky (@kaspersky) June 8, 2015
Por exemplo, imagine que você está à procura de um novo par de sapatos. Ao entrar na loja, o sistema de vigilância da loja cruza sua imagem com fotos e adiciona mais essa informação no seu perfil de consumidor.
Da mesma forma, você vai a uma concessionária com o objetivo de dar uma olhadinha nos novos modelos de automóvel. Imediatamente, os funcionários têm acesso por meio do sistema de vigilância ao seu nome e tudo que há para saber sobre você, incluindo se você tem condições financeiras de pagar.
Não existe salvação nem dentro das igrejas. Por meio de reconhecimento facial identifica-se os frequentadores mais fiéis. Sendo os participantes mais assíduos, mais propensos a fazerem doações à instituição.
Bem legal, não é? Nem tanto, mas não há nada de ilegal nessas práticas.
O que você faria se todos os detalhes de sua vida privada, coletados por diferentes companhias se tornassem públicos na internet da noite pro dia? Diferentemente do ocorrido no hacking do Ashley Madison não restaram dúvidas da veracidade dos dados.
As legislações da maioria dos países não proíbem o uso comercial de reconhecimento facial. Assim como não é crime tirar fotos de alguém na rua. Não é surpreendente que as pessoas estejam buscando cada vez mais fugir dessa condição de não-privacidade sem fronteiras.
A fim de entender como esse objetivo pode ser atingido, dois termos devem ser usados a respeito de métodos contemporâneos de análise de imagens.
Eu posso ver seu rosto, por favor
O primeiro fator é o cruzamento de características detectáveis na imagem comparáveis com as presentes em uma base de dados. As qualidades que permitem a análise podem ser desde a distância entre os olhos, tamanho do nariz, forma dos lábios, entre outros.
O princípio é similar a identificar alguém por suas impressões digitais. As amostras tem de ser coletadas previamente e guardadas na base de dados. Depois disso, compara-se qual o nível de similaridade entre as digitais desconhecidas com aquelas contidas no banco de dados. Portanto, o pré-requisito para reconhecimento facial são fotos de rosto das pessoas com os parâmetros certos.
E de onde viriam essas fotos? As fontes variam. Desde aquela foto tirada para o crachá de acesso a um edifício até a cópia de um documento seu.
#Watchdogs vs Reality: what hacks you see in the game are from real life? https://t.co/TUSct2Ux8E pic.twitter.com/wGve3SqAjv
— Eugene Kaspersky (@e_kaspersky) July 22, 2014
Nao é nenhum bicho de sete cabeças fugir do reconhecimento facial. A forma mais simples consiste em abaixar a cabeça e não olhar para a câmera. A maioria dos parâmetros de reconhecimento só podem ser medidos de um determinado ângulo no qual o rosto aparece por completo. Usando um boné ou chapéu com abas, as câmeras que normalmente estão localizadas no teto não servem para nada.
Especialistas recomendam fazer careta ao passar pelas câmeras. Talvez funcione, mas você pode chamar mais atenção. Óculos escuros são o que você precisa.
A vantagem dos óculos escuros é a cobertura dos olhos, que é na verdade uma das áreas de reconhecimento facial mais útil. Óculos de grau por outro lado não distorcem os detalhes necessários e algoritmos avançados podem lidar com eles facilmente. Porém, óculos grandes com lentes opacas são um verdadeiro desafio para os sistemas mais antigos. Bem como modelos de lente espelhada que cegam as câmeras por meio de luz refletida.
Constantemente vigiados…
A segunda técnica de reconhecimento facial aquela desenvolvida pelo Facebook e Google funciona de outro jeito. É baseada em algoritmos autodidatas e download automático de amostras, comparando as fotos enviadas com todas as fontes disponíveis online.
Facebook owns your face now, and there's nothing you can do about it http://t.co/0xdPfs31Pz
— FORTUNE (@FortuneMagazine) September 8, 2015
Essa variante é muito mais flexível e por conta disso muito mais difícil de enganar. Até uma máscara de gás poderia não ser suficiente para garantir absoluto anonimato, pois esses sistemas não necessitam de características específicas pré-determinadas.
Eles podem utilizar qualquer informação disponível para realizar o reconhecimento. A forma de suas pernas, sua careca, tatuagens, postura, roupas, entre outros. Um experimento do Facebook mostrou-se capaz de reconhecer alguém com 83% de precisão de qualquer ângulo tendo um número suficiente de amostras.
A questão principal nesse caso é a existência de fotos suficientes para comparação. Então, se há apenas uma foto sua mesmo que em altíssima qualidade, a possibilidade de um reconhecimento com sucesso é mínima. Por conta disso, as tecnologias que abrangem grandes quantidades de dados e tecnologia Big Data são colocados como as inovações mais importantes deste setor.
Como se esconder das câmeras de vigilância #privacidade
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O “x” da questão é: devíamos publicar nossas fotos abertamente online? Podemos suportar o fato de que Facebook e Google as usariam para seus próprios objetivos de marketing, pois você não pode se esconder desses gigantes onipresentes. De qualquer forma, nada impede outra empresa de buscar as informações necessárias caso essas estejam disponíveis online.
Imagine que na sua conta no Facebook você ative a opção de privacidade “Apenas Amigos”. E aquelas fotos aleatórias de você em posts de outras pessoas? E seu perfil no LinkedIn? É muito difícil eliminar todas as fontes de informação mesmo apostando em uma ausência total nas redes sociais.
A solução para isso ainda não é clara. Provavelmente, a solução pode residir em regulamentações mais rigorosas no mercado da biometria por parte do governo e atitudes mais conscientes por parte da sociedade.
Atualmente, chegamos no tempo em que nossas fotos precisam ser tratadas com os mesmos cuidados que nossos documentos e cartões de crédito. Deixá-las livres por aí não é nenhum um pouco aconselhável.