Como parte da série “Bring on the Future” (“Trazendo o Futuro”, em tradução livre), a Kaspersky apresenta a história de pessoas e empresas que estão mudando a indústria e a sociedade para melhor ao redor do mundo. Esta é uma delas.
“Telemedicina”: a arte de tornar a saúde em algo digital. Sim, é uma indústria complicada, ainda mais durante o despertar da pandemia do Covid-19, que acabou destacando a necessidade urgente de consultas à distância e cuidados por meios digitais.
Uma das companhias que está liderando o setor é a StethoMe. Seu modelo de estetoscópio digital consegue dar um diagnóstico em tempo real usando apenas um smartphone e um software baseado em inteligência artificial (IA). Como isso funciona? Será que pode ser um indicador de como serão as consultas do futuro? Conversamos com o Diretor de Desenvolvimento de Negócios da StethoME e especialista em saúde pública Stawomir Kmak, para saber mais sobre o assunto:
Ryan Loftus: Olá, Slawek. Me conte a história por trás da StethoMe?
Slawomir Kmak: A empresa nasceu na Polônia cerca de cinco anos atrás. Inicialmente, três de nossos fundadores eram donos de uma empresa de softwares de sucesso, mas tinham interesse em partir para outros ramos. Os três compartilhavam experiências frustrantes relacionadas à medicina em suas famílias, principalmente com seus filhos, que tinham doenças respiratórias, e queriam explorar o potencial da telemedicina para ajudar nesse tipo de casos.
Depois de analisar a indústria em geral, eles se reuniram com dois cientistas, mais precisamente expertos em acústica, que também tinham experiências médicas frustrantes como pais e foi aí que começaram a pensar em construir um estetoscópio digital para cuidados infantis. Inicialmente, a ideia era que a tecnologia facilitasse as consultas pediátricas.
O nome veio da expressão “to stethoscope me”. Em resumo, é um sistema construído para fazer análises inteligentes do pulmão e do coração, capturando sons de dentro do corpo humano e encaminhando-as rapidamente para diagnóstico dos médicos. Agora estamos celebrando cinco anos de empresa.
RL: Mas então qual é a missão da StethoMe?
SK: Tornamos o processo de consulta entre paciente e médico mais rápido e mais fácil para ambos os lados envolvidos. O que a IA e seus algoritmos fazem dentro disso é deixar tudo muito mais preciso. Um estetoscópio é uma ferramenta básica nas interações entre médicos e pacientes. E exames de ausculta, quando se usa o estetoscópio para ouvir sons dentro do corpo, são essenciais, principalmente em crianças. Queremos ter a capacidade de tornar essa nova tecnologia disponível em qualquer lugar, em qualquer lar.
Primeiro, mantivemos nosso foco nos cuidados pediátricos, mas agora estamos expandindo também para os adultos. A StethoMe trabalha junto com muitos parceiros, desde fornecedores do ramo da saúde até organizações públicas. E queremos expandir para incluir também seguros e convênios, empresas de telemedicina e muito mais.
RL: E como funciona essa tecnologia?
SK: Existem dois elementos-chave para o StethoMe: hardware e software. Nosso hardware é único e foi desenhado do zero pela nossa equipe. Recentemente, inclusive, venceu o prêmio IF 2020 de design. É um aparelho que você segura na altura do peito do paciente e com isso consegue capturar os sons do pulmão e do coração.
Além disso, você tem o software com algoritmos de IA que analisam esses sons, traduzem e entregam em formato de dados digitais para ambas as partes envolvidas. Os algoritmos do StethoMe indicam e informam pacientes sobre possíveis anormalidades que apareçam em seu sistema respiratório. Logo um médico recebe as ondas sonoras em tempo real em seu sistema, com indicadores de todas essas anormalidades.
Nossos algoritmos de IA estão baseados em 12 mil gravações, 40 mil descrições médicas e mais de um milhão de categorias médicas, que são geralmente usadas para classificar as ondas e seus atributos. Para o paciente funciona da seguinte maneira: você segue um tutorial simples, com um passo a passo para que você faça a ausculta da maneira correta em sua casa. Logo, a IA do StethoMe analisa os sons obtidos e entrega resultados imediatos. Existem três respostas possíveis: pulmões verdes, laranjas ou vermelhos. Verde quer dizer que tudo está bem, laranja mostra que alguma anormalidade foi detectada e vermelho indica que pode existir um problema mais grave. A partir daí, você pode enviar os resultados completos para um médico, que vai receber informações precisas sobre quaisquer anormalidades ou problemas.
No sistema dos médicos, eles podem tocar os sons novamente e observar espectrogramas com indicações precisas de anormalidades a cada ponto da ausculta. Assim, podem entender os valores de risco relativo e de batimentos cardíacos por minuto (BPM). Isso dá ao profissional de saúde uma orientação técnica e confiável para saber como diagnosticar o paciente.
RL: Parece realmente algo muito prático. Mas quais são os benefícios reais de usar o StethoMe?
SK: Para os pacientes, o StethoMe representa uma maneira de fazer em casa exames de ausculta que antigamente só estavam disponíveis num consultório. Você fica sabendo rapidamente se seu pulmão ou o do seu filho precisa de algum tipo de tratamento. O StethoMe também é uma forma de tornar a telemedicina mais precisa e diminuir a necessidade de consultas físicas com um médico.
Para os profissionais, o StethoMe funciona como um auxílio, uma ferramenta rápida de consultas, reduzindo a demanda do sistema e, ainda assim, contando com uma interação precisa e técnica graças à IA. Isso também pode beneficiar o monitoramento de doenças crônicas, como por exemplo a asma. Isso porque o estetoscópio do StethoMe fornece sons claros e nítidos que se escutam muito mais alto e de maneira mais precisa do que seria em um estetoscópio tradicional.
Mas talvez um dos maiores benefícios é que todos, incluindo pais e cuidadores, conseguem usar o StethoMe. E é isso que nos deixa à frente da maioria dos competidores e de outras inovações similares.
RL: Falando sobre o Covid-19. Como isso tem afetado a trajetória do StethoMe e vice-versa?
SK: Assim como para todas as empresas, o coronavírus tem sido algo muito impactante e que exigiu muito da nossa organização. Apesar disso, como se trata de uma doença respiratória, nosso produto teve um impacto muito significativo no combate ao vírus, porque pode ser usado por médicos e trabalhadores da saúde como uma alternativa mais segura em relação aos estetoscópios tradicionais, já que estes podem se tornar um objeto transmissor do vírus. Desenvolvemos ainda um recurso especialmente para os médicos da linha de frente que trabalham em hospitais de isolamento, assim agora eles podem usar o StethoMe com fones de ouvido, por baixo dos equipamentos de segurança.
O StethoMe dá liberdade para que os médicos também possam repassar a função de fazer a ausculta para enfermeiros ou para o próprio paciente em sua casa. E essa ausculta remota tem se provado essencial durante a pandemia para ajudar a limitar o número de pessoas nos hospitais e também o número de profissionais da saúde infectados com o Covid.
RL: Isso é realmente incrível. Mas, no meio disso tudo, como vocês fazem para garantir a segurança dos dados dos pacientes e da própria empresa?
SK: Nós não temos uma plataforma específica para esses dados. O StethoMe funciona como um API aberto. Isso significa que podemos integrar nossa tecnologia a sistemas e plataformas já existentes. Por isso, não guardamos nenhum dado dos nossos consumidores em nossos servidores e garantimos que nossos parceiros tenham parâmetros seguros de cibersegurança para que possamos operar.
O único tipo de dado que processamos são o registro sono das ondas que, do ponto de vista da GDPR, ou de qualquer outra regulamentação atual relacionada a dados, não é caracterizada como dado pessoal. Mas sim, asseguramos que ao longo de todas as etapas do nosso negócio estamos completamente protegidos contra riscos cibernéticos, e usamos desde comunicações criptografadas até VPNs para manter nossos servidores sempre em dia.
RL: E dentro de tudo isso, qual foi o seu maior desafio até agora?
SK: Muitos! O StethoMe é um projeto que exige muito. Tivemos que suar para conseguir as certificações médicas necessárias para poder operar. Mas o maior desafio foi criar o algoritmo certo para a IA, já que era muito difícil conseguir a validação clínica e técnica para isso, devido à complexidade do sistema. Mas conseguimos. E por isso agora que está funcionando e disponível sentimos que já é motivo de muito orgulho para nós.
RL: Que bom! E pensando por outro lado: qual foi o maior acerto de vocês até agora?
SK: De novo: a certificação médica. A validação do meio é uma motivação enorme para nós. Significa que nosso projeto foi reconhecido pelo seu potencial. Recentemente fizemos o lançamento oficial para o público, desde provedores de saúde até organizações públicas, e tem sido ótimo ver nossa tecnologia sendo usada por toda a Europa.
Mas o que também nos motivou demais foi poder ajudar para que os hospitais fossem mais seguros durante a pandemia. Isso com certeza foi um empurrão a mais e hoje sabemos tudo que podemos fazer para ajudar a melhorar o meio da saúde.
RL: Sim, claro. Isso é ótimo. Então o que você acha que o futuro reserva para a StethoMe?
SK: Queremos crescer e expandir, primeiro com foco na Europa e depois para os Estados Unidos, onde atualmente estamos passando pelo processo de certificação da Food and Drug Administration, a FDA. A partir disso, queremos seguir para o Oriente Médio e para o resto do mundo.
Como somos uma tecnologia baseada em inteligência artificial, temos a chance de desenvolver mais recursos baseados no nosso algoritmo. No momento, estamos trabalhando em um novo monitor cardíaco que mostre a progressão exata de doenças crônicas no histórico do paciente. E assim que isso estiver finalizado, poderemos oferecer um serviço ainda mais completo e eficiente.
RL: Bom, é isso. Muito obrigado Slawek e boa sorte!