Tecnologia do Bem

Startup combate o “greenwashing” no varejo por meio do blockchain.

A startup Provenance quer tornar o varejo cada vez mais responsável e impedir que companhias vendam produtos “sustentáveis” e “naturais” sem comprovação, o famoso “greenwashing”. Como? Por meio do blockchain e de muita paixão. Saiba mais.

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Quantas vezes você já se sentiu culpado ao comprar algo que você não sabia se havia sido fabricado de maneira ética? Foi esse mesmo dilema que fez a empreendedora em tecnologia Jessi Baker fundar a Provenance, uma empresa que usa o blockchain para deixar as cadeias de suprimentos mais transparentes. O foco é combater o “greenwashing”, processo no qual as marcas atribuem definições ambientalmente e eticamente positivas para seus produtos sem ter comprovação suficiente disso.

Essa é uma maneira maravilhosa de se utilizar o blockchain: um sistema descentralizado, aberto e permanento de rastreio de informações armazenadas em blocos virtuais (registros de transações) conectados por uma corrente. A Provenance usa o blockchain para confirmar as afirmações que as marcas fazem sobre o impacto de seus produtos, desde a origem da matéria prima até chegar ao consumidor final.

A Comissão Europeia recentemente premiou a mais nova inovação dessa startup, chamada Proof Points, com 1 milhão de euros, como parte do EU Horizon Blockchain for Social Good award (“Prêmio Horizonte do Blockchain para o Bem-Estar Social da EU”, em tradução livre). A plataforma funciona da seguinte maneira: as empresas podem usar os Proof Points para comprovar suas alegações. Elas juntam os documentos que comprovem suas afirmações e convidam uma terceira parte independente para verificá-los. Uma vez verificados, os Proof Point ganham um sinal verde, que fica guardado como um registro público permanente.

A loja online Cult Beauty, por exemplo, usa o sistema de Proof Points para categorizar produtos de sua “edição consciente”. As páginas dos produtos ecológicos têm ícones com “orgânico”, “clinicamente testado” e “vegano”, e essas afirmações ganham um tique verde por terem sido verificadas. Com isso, os consumidores podem ter total confiança nas credenciais éticas de cada item, e a Cult Beauty ganha ainda mais credibilidade dentro de um mercado muito competitivo.

Conversamos com Jessi para saber como a Provenance está mudando o mercado de varejo com sua tecnologia inovadora.

Angharad Salazar Llewellyn – Qual é o principal objetivo da Provenance?

Jessi Baker – As empresas estão saindo impunes ao usar o greenwashing para expandir seus negócios. Elas sabem que as pessoas querem comprar produtos que se alinhem com seus valores, mas muitos não querem ter o trabalho de verificar se esses produtos fazem jus às suas expectativas.

Jessi Baker, fundadora da Provenance

 

Nosso foco é ser a referência no mercado de administração de cadeias de suprimentos e de transparência do impacto social dentro dos próximos cinco anos.

O objetivo é que você se acostume a ver a frase “powered by Provenance” em pontos de venda online, lojas físicas e nas embalagens dos produtos. Em agosto de 2020, por exemplo, distribuímos milhões de embalagens de tomates enlatados da marca Napolina com nossos códigos QR para diversas cadeias de supermercados espalhadas pelo Reino Unido. Os consumidores agora podem escolher produtos que sejam compatíveis com seus valores da mesma forma que vemos avaliações “powered by Trustpilot”. Dessa forma, as pessoas podem ser mais conscientes e certeiras em suas compras, criando um mundo mais verde e justo.


ASL – Por que escolheram o blockchain para isso?

O blockchain permite o controle e a gestão da informação, seja esta pouca ou muita. E isso está revolucionando a segurança da informação.

É uma nova forma de armazenar e compartilhar informação de um jeito transparente e fácil de auditar, afinal qualquer pessoa pode ver todos os registros. Além disso, é descentralizada, já que a informação é armazenada de uma forma que não pertence a somente uma empresa. É aberta para qualquer pessoa que quiser participar e ninguém, nem nenhuma empresa, consegue controlar ou modificar essa informação para ganhos pessoais. Ou seja, é possível afirmar que todos têm acesso às mesmas informações.

A natureza aberta, (em grande parte) incorruptível e descentralizada da rede de blockchain permite o empoderamento de todos os envolvidos na cadeia de suprimentos. Ela promove a igualdade ao providenciar para todos um formato em que todos podem confiar.

 

ASL – Qual tem sido o trabalho da Provenance no mercado?

JB – Nós realizamos grandes testes na indústria de comidas e bebidas com o objetivo de ir além e focar nos impactos sociais. Em um recente projeto em parceria com a marca de tomates enlatados Napolina, abordamos o tema do trabalho ilegal na indústria de tomates da Itália. E, com isso, também comprovamos a produção responsável da Napolina para seus consumidores.

 

ASL – O que você fazia antes de fundar a Provenance?

JB – Eu estudei engenharia de produção na Universidade de Cambridge. Até meus 20 e poucos anos, passei um tempo trabalhando com cadeias de suprimentos.

Antes de fundar a Provenance, eu era técnica de criação numa grande agência de publicidade, trabalhando com marcas importantes. Eu sempre amei tecnologia, então criei a Provenance como um projeto paralelo enquanto fazia meu doutorado em Ciências da Computação na Universidade de Londres. Foi aí que descobri como as novas tecnologias poderiam ajudar a melhorar a transparência no mercado.

 

ASL – Você é uma líder inspiradora quando se trata de tecnologia. Mas o quão importante são temas como representatividade, diversidade e inclusão dentro da sua empresa?

JB – A Provenance teve a sorte de ter grandes líderes mulheres. Recebemos investimentos e apoio de duas inspiradoras mulheres desde o começo: Alexsis de Raadt-St James e Chemain Sanan.

Outra grande referência e mentora para nós é Alicia Navarro, criadora da Skimlinks, que levou sua empresa do zero aos 50 milhões de dólares de faturamento. A jornada como uma startup costuma ter milhões de imprevistos e ter ela me guiando durante o começo da minha própria empresa foi algo incrível.

 

ASL – E agora? O que esperar do futuro da Provenance?

JB – Estamos passando por um momento incrível. O prêmio de 1 milhão de euros da Comissão Europeia nos deu a confiança e o suporte necessários para impulsionar ainda mais nossas atividades.

Entramos cedo demais no mercado quando começamos a Provenance, mas agora já temos anos de experiência, trabalhando com marcas pioneiras e conversando com consumidores conscientes. Finalmente estamos vendo nossa empresa se tornar mais “mainstream”.

Hoje as marcas ainda podem fazer “greenwashing”. Amanhã elas terão que comprovar tudo o que publicitam. A consistência e honestidade sobre seus impactos sociais são os fatores que farão as marcas prosperarem num futuro próximo.

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Sobre os autores

Angharad Salazar Llewellyn is the founder of The Flex Network. She writes about flexible working and sustainability for national newspapers and global clients, and is also interested in innovation and ethical business trends.