App espião no celular é a forma mais comum de perseguição digital

Estudo mostra que 70% dos brasileiros não sabem o que é stalkerware ou spouseware

Encontrar sempre uma mesma pessoa nos locais que vamos ou ter a impressão de que nossas conversas no celular – por voz ou texto – estão sendo espionadas por alguém são fortes indícios que o crime de perseguição online (ou stalkerware) pode estar acontecendo. Claro que também existe a perseguição física e ambas as formas se completam.

Este foi o tema da nossa pesquisa “Stalking online em relacionamentos“, que mostra que um em cada quatro brasileiros1 já foi ou está sofrendo um monitoramento abusivo por meio da tecnologia.

O problema da perseguição é tão sério no Brasil que foi criada a Lei 14.132/21 em 2021. Além de ter sido aprovada em uma sessão do Senado dedicada a questões femininas e em celebração ao Dia Internacional da Mulher, a lei também tem como principal motivação o aumento da violência doméstica contra as mulheres durante o isolamento social na pandemia: o Brasil é o 5º pais com mais feminicídios no mundo.

A questão de gênero está presente no estudo, mas os resultados brasileiros mostram um cenário mais igualitário na maior parte dos casos. Entre os participantes que afirmaram conhecer o que é o stalkerware ou spouseware (no total, representam 30%), há mais homens (32%) do que mulheres (29%). Já as respostas globais, mostram uma diferença de 5%. Entre quem respondeu não conhecer, a diferença entre os gêneros é de 1% (50% homens – 51% mulheres, em um total de 50%). O restante (20%) não soube dizer ou não tinha certeza da resposta.

É importante dizer que esse tipo de programa para monitorar cônjugues permanece escondido da vítima. Neste contexto, faz sentido que o(a) abusador(a) conheça sua existência. Já a vítima não irá saber do que se trata. Juntando essas características, faz sentido o combate ao stalkerware focar também na proteção das mulheres“, analisa Raquel Marques, presidente da Associação Artemis e doutora em Saúde Coletiva pela Universidade de São Paulo (USP).

Outro dado importante é a quantidade de pessoas que confirmaram ter sido ou ser vítima de perseguição abusiva que utiliza a tecnologia. Entre os brasileiros respondentes, 25% confirmaram essa situação – sendo que entre os homens, 22% foram ou são vítimas, e entre as mulheres, 28% foram ou são.

O estudo também aponta as formas mais comuns deste crime, com o monitoramento por meio do celular liderando disparado com 54% das respostas de quem foi/é vítima de stalking. Outras formas incluem o uso de dispositivos criados especificamente para fazer um monitoramento (36%), programas instalados em computadores (24%), espionagem por meio da webcam (14%) e dispositivos para casa inteligente (12%). É importante destacar que 13% das vítimas não souberam responder como a perseguição ocorreu, denotando como o assunto ainda é nebuloso.

Sobre as formas de perseguição online, é importante destacar que o programa stalkerware é instalado, na maioria das vezes, tendo acesso físico ao equipamento, por esse motivo o abuso é sempre feito por alguém próximo à vítima: cônjugue, familiar ou, em alguns casos, colegas de trabalho. Esta instalação ocorre de maneira discreta e sem o conhecimento da vítima. E faz sentido o celular estar na primeira posição, já que ele permite o rastreamento da localização junto com o acesso a informações privadas, como chamadas telefônicas, conversas via aplicações e o e-mail“, explica Fabio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky no Brasil.

As funções e capacidade de monitoramento dos programas stalkerware também foram tema do estudo. De acordo com os dados no Brasil, o monitoramento das atividades na Internet (79%), as informações sobre localização da pessoa (63%), gravações em vídeo e áudio (53%) e o comando para realizar uma captura de tela são os recursos mais conhecidos. Porém, a minoria sabe que o programa avisa o(a) abusador(a) quando a vítima tenta desinstalá-lo (34%) ou quando ela(e) chega em casa (33%).

Os stalkerware disponíveis para baixar na Internet têm recursos limitados, esses programas foram adequados para uma instalação simples como um jogo ou um programa para editar um texto. Já os softwares com mais recursos são criados e comercializados por empresas e exigem a instalação via acesso físico do dispositivo, com o desbloqueio do celular para obter total controle e acesso das funções“, afirma Assolini.

O especialista ainda destaca falhas de segurança no comportamento das pessoas que facilitam este crime. “Casais costumam compartilhar a senha do smartphone entre si e a pesquisa confirma isso (62% dos respondentes sabem a senha do parceiro e também informou a sua). Outro hábito digital preocupante do ponto de vista da segurança é o compartilhamento de serviços como iCloud e Google Account entre membros da mesma família: 36% dos brasileiros o fazem e essa é mais uma opção tecnológica de perseguição, já que esses serviços têm recursos de localização geográfica, armazenamento de fotos na nuvem entre outros recursos que podem ser explorados.

A pesquisa “Stalking online em relacionamentos” foi realizada de forma online pela empresa de pesquisa Sapio, a pedido da Kaspersky, em setembro de 2021, e abrangeu um universo de 21 mil participantes de 21 países, incluindo o Brasil. A motivação da empresa na realização deste estudo e sua posterior divulgação também está relacionada com o segundo aniversário da Coalizão Contra Stalkerware – entidade que visa combater esta ameaça digital na qual a Kaspersky é cofundadora.

Para conhecer mais sobre o tema, a atuação da Kaspersky nesta área e a Coalizão, acesse esta página. Além disso, a Kaspersky junto com Raquel Marques da Associação Artemis e a delegada de polícia Milena Lima farão o webinar “Entendendo a ligação entre a “espiadinha” online e a violência doméstica”, no próximo dia 25 de maio de 2022.

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